Golfinhos estão morrendo aos montes nos litorais do RJ e SP
- Renan Novais
- 17 de jan. de 2018
- 3 min de leitura

Dezenas de botos cinza foram encontrados mortos desde o início de dezembro de 2017, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro e norte do litoral paulista. A situação mais grave acontece na Baía de Sepetiba, na zona oeste da capital fluminense. É lá que fica a maior concentração da espécie no mundo, com cerca de 800 indivíduos. Até o último dia 7 de janeiro, 102 botos cinza foram encontrados mortos, o equivalente a 13% de toda população.
A situação é semelhante no litoral norte de São Paulo. “É uma mortalidade fora do padrão”, contou Carla Barbosa, do Instituto Argonauta de Conservação Marinha. Entre os meses de novembro e dezembro de 2017 foram recolhidos pela equipe do instituto 47 botos cinza mortos. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2015 foram sete, e em 2016 foram seis. Apesar do nome, o boto cinza é uma espécie de golfinho que atinge até dois metros de comprimento, habitando em águas costeiras do oceano Atlântico, em uma faixa que vai de Honduras ao sul do Brasil. É um dos menores cetáceos do mundo.
Pesquisadores que investigam a causa da mortalidade dos botos cinza do Rio de Janeiro encontraram um culpado: um vírus da família do paramixovírus, a mesma do causador de sarampo em seres humanos. Em São Paulo, o resultado da necropsia ainda não saiu, mas acredita-se que seja o mesmo causador. “Se for um vírus mesmo, não tem nem o que fazer”, afirma André Barreto, coordenador do Projeto de Monitoramento de Praias Fase 1, que cobre uma área de Santa Catarina a Ubatuba. “Não dá para sair vacinando os botos”. De incidência incomum por aqui, esse tipo de vírus já foi ligado a mortalidade em massa de cetáceos em outros cantos do mundo, como em 2013, quando matou 333 golfinhos-nariz-de-garrafa na costa leste dos EUA. Pesquisadores afirmam que não há risco para saúde humana. Apesar de não ser o criador do vírus que mata os golfinhos, os seres humanos estão longe de serem inocentes nessa história. “Faz 30 meses que submetemos a necropsia todos os animais mortos encontrados, seja golfinho, tartaruga ou ave”, conta Barreto. “O que a gente percebeu é que o estado de saúde dos animais não está bom. De modo geral estão doentes, com problemas no fígado, rins, sistema imunológico”. Para ele, a culpa é toda nossa. “Os animais podem não morrer dos poluentes, mas pode atrapalhar o sistema imunológico deles. Quando aparece um vírus novo, por estarem com a saúde debilitada, ficam vulneráveis”, diz Barreto. “Se estivessem saudáveis, talvez uma parcela menor dos animais acabasse desenvolvendo sintomas”. A saúde dos botos cinza também preocupa no Rio de Janeiro. Um monitoramento do Instituto Boto Cinza na Baía de Sepetiba mostra que mais de 50% dos botos adultos avistados estão mais magros que o normal, e mais de 80% dos filhotes apresentam lesões de pele e magreza. “É muita pesca, o que os deixa sem alimentos. Muito esgoto no ambiente, com um monte de virus e bacterias”, desabafa Barreto. “É fácil esses patógenos que se desenvolvem no ser humano sofrerem uma mutação e contaminar os mamíferos marinhos, como o golfinho. Em um peixe é mais difícil, por ter um metabolismo diferente”.
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